quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A mensagem para o FUTURO!

Já foi constatado que certas partículas sub-atômicas têm a habilidade de viajar no tempo.

Foi pensando nessa propriedade que um grupo de cientistas do mundo todo resolveu que iria criar um modo de enviar mensagens através do tempo, quebrando todos os conceitos sobre a comuicação comum.

Foi Dr. Timmy (esse era o nome dele, não confunda com o Timmy do outro conto) que encabeçou, então, o projeto para o envio de mensagens digitais para o FUTURO!

Bastante dinheiro foi investido no projeto, mas Dr. Timmy não conseguia entender por que a outra equipe (a que fazia parte da mesma empresa, mas que trabalharia em outro ramo da pesquisa) costumava abafar risos ao vê-lo. Também não entendia por que seus companheiros de trabalho e subordinados estavam cada vez mais irritadiços. Ninguém compartilhava com ele a mesma empolgação.

Por fim, todos desistiram, gritando muito, e Dr.Timmy ficou sozinho para realizar o que seria o sonho da sua vida. Trabalhou, trabalhou e trabalhou incansávelmente até que finalmente seu mais precioso trabalho ficou pronto! O dispositivo que enviaria mensagens para o distante e aterrador FUTURO DE (inclua uma data aqui).

Escreveu, empolgado, um tratado de 200 páginas sobre todos os seus anos de luta e pesquisa, sobre como seu invento funcionava e sobre todas as coisas interessantes que tinha para dizer, agora que estava livre do fardo que carregou a vida inteira.

Enviou, também cópias digitalizadas de seus manuscritos e rascunhos, para que o povo pudesse analizá-los.

Terminou sua mensagem com os seguintes dizeres:

"...confio todos esses documentos ao meu futuro neto, que sei que existirá, para que os utilize com sabedoria."

Seu espanto foi tamanho quando ele recebeu uma mensagem de volta.

"Ih, vovô" (era uma mensagem do neto dele) "vacilou, hein? Se queria tanto deixar uma mensagem para mim, por que não escreveu uma carta? Era só deixá-la guardada em local seguro até eu ter idade para lê-la. E acho melhor avisar que hoje em dia é possível mandar mensagens para o passado. Pelo que eu me lembre era o que a sua equipe rival fazia, não? Sinto muito, mas acho que você gastou todo esse tempo à toa..."

Abismado, a resposta do Dr.Timmy foi bem mais curta. Pediu, desesperado, para que seu neto enviasse uma mensagem ainda mais distante no passado, alertando-o de sua estupidez, ou que lhe mandasse as informações de como construir um desses aparelhos, para que ele mesmo pudesse fazê-lo.

Foi quando um grande peso abateu-se sobre seu coração. Depois de ter passado todos os anos de sua vida dedicando-se a um projeto inútil e vazio, sem ter feito nada a não ser pesquisar, sem ter casado e constituído família, ele só podia se perguntar:

Como, demônios, ele tinha um neto?

Antes que a gravidade do questionamento pudesse lhe capturar por completo, o maquinário de comunicação emitiu um aviso sonoro. Era uma mensagem do futuro que dizia o seguinte:


"Ah, e mais uma coisa. Aqui no futuro nós conseguimos descobrir o propósito do universo, entende?"

Nem um segundo se passou, ele recebeu outra mensagem.

"A questão é... Eu não vou contar."

Fez-se um silêncio terrível. E só.

O Paradoxo do Avô Ninja

Foi em uma daquelas tardes tediosas em que o jovem Timmy (não é esse o nome dele, só o apelido na internet) resolveu que iria começar a lutar Kung-Fu.

"Qual é, Timmy, tá querendo virar super herói?" - perguntou um amigo dele

"Não. Só não vou deixar o meu neto me matar" - ele respondeu, deixando seus amigos com cara de tacho.

Timmy tinha 16 anos, algumas espinhas na cara e não tinha nem filho, quem dirá neto. Todos estranharam quando ele, nerd incorrigível e fã de paradoxos da Física, entrou em uma fanática rotina de treinamento do corpo.

"Deve estar sofrendo bullying" - comentaram.

E estava, mas aquele não era nem de longe o motivo de toda aquela mudança. Logo as pessoas se acostumaram e deduziram que Timmy finalmente havia optado por um estilo de vida mais esportivo e provavelmente iria prestar vestibular para Educação Física.

Foi bastante estranho quando ele passou no vestibular para Medicina Veterinária.

Por um instante ele se preocupou com as piadas que poderiam surgir. Talvez alguém viesse a perguntar se a sua ambição era ganhar a vida domando cavalos ou lutando com crocodilos, mas ninguém perguntou. Talvez fosse absurdo demais, ou o fato de ele não ter demonstrado nenhuma vontade de ir para a Austrália tivesse sido suficiente para amenizar qualquer suspeita.

De qualquer forma, ele resolveu deixar tudo bem claro:

"Medicina veterinária é por causa do Gato de Schrodinger"

Seus amigos, que no momento estavam jogando PS3, responderam com gemidos que expressavam total desinteresse pelo assunto. A verdade é que Timmy pretendia criar e instalar um sistema de monitoramento vital portátil em um gato, para então submetê-lo ao tão famoso experimento que confundia tantas pessoas.

"O gato está, portanto, vivo e morto ao mesmo tempo, não é o que dizem? Bom, tem que ver isso aí" - ele disse, quando lhe perguntaram, só para fazê-lo parar de falar.

Também era verdade que o Gato de Schrodinger seria apenas uma entre as várias distrações que ele bolaria para passar o tempo enquanto treinava mais uma das várias artes marciais às quais ele havia demonstrado interesse. Pretendia, também, prestar concurso para ser detetive. Isso, é claro, chamava a atenção, principalmente vindo de um homem que estava concluindo o curso de Medicina Veterinária.

"Você quer virar o Batman?" - seu amigo lhe perguntou.

"Não, eu só não vou deixar o meu neto me matar." ele respondeu "Talvez eu deva incapacitá-lo..."

De novo a questão foi ignorada. Timmy era louco, só podia. Claro que, àquela altura do campeonato, ele já não tinha mais namorada. E sim, acredite, ele teve uma namorada. Mas isso não é importante. Algum dia ele teria outra namorada, então eles se casariam, teriam filhos e então um neto.

"Se bem que eu não vou precisar esperar tanto." disse Timmy "Ele pode aparecer a qualquer instante."

"Mas que diabos você está dizendo?"

"É simples, meu caro. Com o desenvolvimento tecnológico, logo vão construir uma máquina do tempo e eu não duvido nada que construam uma máquina do tempo que volte ao passado..."

"É impossível voltar ao passado" -disse o amigo

"Por enquanto" teimou Timmy "Mas haverá um momento em que as máquinas do tempo voltarão ao passado. Quando isso acontecer, vão tentar por o Paradoxo do Avô à prova."

"Como tem tanta certeza?"

"É o que eu faria se tivesse cursado Física"

"HÃ!?"

"Quando testarem o Paradoxo do Avô, com certeza vão mandar meu neto voltar ao passado e me matar"

"Por que diabos você acha isso?"

"Por que é o que eu faria se tivesse cursado Física. Voltaria no tempo, se possível. Ou mandaria o meu filho. Ou o meu neto, o que é mais provável."

"Pelo amor de Deus, Timmy!"

"O que? Você não precisa gritar assim..."

O compadre já estava farto daquela situação. Sairia dalí e chamaria uma ambulância, o hospício, ou o que fosse. Seu amigo estava louco e precisava de ajuda. Só tinha uma coisa que lhe incomodava. Uma única coisa. E ele tinha que perguntar:

"E por que você acha que o seu neto vai te matar?"

Timmy lhe respondeu prontamente:

"Ora, quem sabe o que o futuro nos reserva?"

Seu amigo saiu sem dizer nada, sentindo uma vontade absurda de se trancar em um hospício.